Líquido é tudo aquilo que não tem forma, firmeza, se adapta a qualquer recipiente em que for colocado ou que não tem solidez necessária para permanecer firme quando tirada de sua zona. Em 1999, Zygmunt Bauman, escreveu sobre uma sociedade que tem como característica a liquidez, isto é, que não tem a solidez necessária na sua forma de se posicionar e nas suas relações.
Não é raro vermos ou vivenciarmos relações líquidas, ou seja, relações que iniciam tão facilmente quanto terminam. Não é difícil vermos amizades, matrimônios ou relações familiares sendo desfeitas, descartadas. A “modernidade líquida” de Bauman talvez nem faça mais sentido, está mais para sociedade vaporizada, sendo complicado encontrar uma relação sólida a quem se apegar.
Pense nas pessoas que estão ao seu redor, qual é a qualidade de suas relações?
Acostumados a consumir tantas coisas, podemos cair no erro de consumir pessoas também. Quem está do seu lado deixa de ser uma pessoa e passa a ser um objeto que lhe serve para proporcionar bem-estar e prazer. Porém, todo relacionamento significativo e verdadeiro passará também por momentos extremamente desagradáveis, pois relacionar-se é difícil. São duas pessoas, duas criações, duas percepções, dois mundos diferentes.
Na “era do cancelamento”, não há mais espaço para a fraqueza e a vulnerabilidade tão inerente ao ser humano, não há permissão para ser falho e quanto mais para recomeçar a estrada. Não é à toa, que o próprio Fernando Pessoa, levanta um grito contra uma sociedade composta por pessoas “ideais”, dizendo: “Argh! Estou farto de semideuses. Argh! Onde é que há gente? Onde é que há gente no mundo?”. E se não há espaço para falha, há espaço para gente?
Se naquele século de Pessoa um grito desse é levantado, que esperança há para nós?
Se propor a não ser uma mulher líquida, é posicionar-se não só em valores, mas também em crenças sólidas, inegociáveis. Além de se propor a construir relacionamentos pautados na dedicação ao outro, assim como a si mesma, tendo responsabilidade afetiva e investindo em relações duradouras, e indo contra a lógica de relações feitas para servir a si mesma. Relação é troca, é duas partes, é afeição e investimento.
Construir relacionamentos sólidos é ser responsável pelo outro tanto quanto quero que o outro seja responsável por mim. É fazer ao outro aquilo que eu gostaria que ele me fizesse, e aliás se você recebesse o que você faz pelo outro, o que você receberia?
Que possamos ser mulheres firmes, com relacionamentos duradouros, sólidos. Gastando tempo em manter relações e investindo em gente, e não evitando todos aqueles que por vezes nos ofendem ou machucam, buscando por sabedoria para que possamos ser claros das dores que nos causaram e também em ter consciência do que causamos aos outros.
Relacionamentos líquidos, nunca mais!