Dentre os mais de 156 milhões de eleitores aptos a votar em 2022, segundo o TSE, as mulheres são a maioria, 52,65%, embora esses números não sejam inéditos, visto que as mulheres já eram maioria em outros pleitos, e esse percentual não se reflete nas cadeiras ocupadas por elas, limitando-se a 15% do total.
Conforme os principais autores que discutem a pequena representatividade feminina, os números são reflexos das condições sociais e legais que impediam as mulheres não só de votar, mas de exercerem uma série de direitos há poucos anos conquistados.
Os movimentos pelo direito de votar eclodiram na Europa no início do século XX e espalharam-se por diversos lugares até chegar ao Brasil. Apenas em 1932, com o Decreto nº 21.076, definitivamente as mulheres de todo o país adquiriram o direito ao voto.
As batalhas travadas em busca de mudanças legislativas não tiveram o condão de, por si só, garantir a transformação social desejada. As mulheres, até então confinadas aos espaços privados, aos poucos passaram a fazer parte da vida pública, porém, a luta estava apenas começando. A cada dia, mais e mais mulheres necessitavam trabalhar fora de casa, por consequência as demandas surgiam. Para garantir direitos era necessário criar políticas públicas que os efetivassem, para isso os gestores precisavam compreender a realidade. Como um homem poderia compreender as dificuldades que as mulheres enfrentavam diariamente?
A empatia é virtude de poucos, aquele que não vivenciou a situação tem dificuldade de compreendê-la em sua plenitude. Por esta razão, as políticas públicas, criadas por uma maioria masculina, ainda que de muito boa vontade, passam longe de atender aos anseios das mulheres.
Ainda hoje, mulheres sofrem todos os dias, recebem salários menores que os homens em cargos iguais, são molestadas dentro do transporte coletivo, sofrem violência doméstica, são assediadas por superiores hierárquicos, suportam jornada dupla, pois continuam assumindo todas as tarefas domésticas, apesar de cumprirem jornada de trabalho formal integral, entre outras mazelas exclusivas das mulheres. Existem casos que destoam da regra, mas ainda são raros, pois a infinita maioria das mulheres brasileiras suporta essa realidade todos os dias e procuram manter o sorriso no rosto. Por elas que a luta por equilíbrio representativo precisa continuar.
Para que mais mulheres ocupem cargos eletivos, todos, mas especialmente elas, precisam mudar o olhar em relação à política, passando a vê-la como algo necessário e importante, que não se confunde com politicagem; buscar compreender minimamente a política e a democracia e o quão importante são esses dois conceitos para o modelo atual de sociedade.
Por fim, mulheres precisam colocar seus nomes à disposição, não apenas para os cargos de vereadoras, deputadas etc., mas para associações de modo geral ou qualquer outro cargo eletivo de menor amplitude e, outras mulheres precisam conhecer as propostas e se engajarem para que seja possível realizá-las, pois uma sociedade justa e equânime não se constrói sozinho.
³ ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. O voto de saias: a Constituinte de 1934 e a participação das mulheres na política. Estudos avançados, v. 17, n. 49, p. 133-150, 2003.
⁴ política de interesses pessoais, de troca de favores, ou de realizações insignificantes.