Amamentar o filho no seio, assim como fazê-lo nascer por parto normal é da natureza das mulheres. Hoje, com o avanço da ciência, temos recursos para quando algo não vai bem. Entretanto, o que vemos é uma inversão, tanto o parto natural quanto o aleitamento materno tornaram-se exceção na vida das mulheres.
Isso acontece por muitos motivos, como: Profissionais desatualizados e com interesses econômicos (encher a agenda com cesarianas, ou prescrever leites artificiais favorecendo à indústria); Falta de informação desde a escola sobre parto e amamentação nas aulas de ciências e biologia; Sobrecarga das mulheres com cuidados da casa e outros filhos, além de trabalhar fora; Falta de apoio familiar com incentivo ao uso de chupetas e mamadeiras.
O Aleitamento materno deve ser exclusivo até o sexto mês e intercalado com a alimentação até, no mínimo, dois anos da criança. Essa prática previne desnutrição, diarréia, alergias, intolerâncias, aumenta a inteligência, a autoestima e autoconfiança, diminui risco de alcoolismo, drogas e transtornos mentais, além de estar relacionado a maior renda na vida adulta. Se cada família refletisse sobre a importância desse esforço, acredito que todos se empenhariam em proteger a amamentação.
O que toda família precisa saber sobre amamentação?
- O leite NÃO desce na maternidade.
- As gotinhas de colostro podem aparecer já no final da gestação ou então aparecem logo após o parto. Mesmo se cesariana, o colostro aparecerá. Essas gotinhas são ouro líquido. Protegem a boca, o esôfago, os intestinos, protegem e tratam doenças, nutrem com exatamente o que cada bebê precisa, para se preparar para receber o leite.
- Tem bebê que não larga o peito, chora, só quer estar grudadinho no colo.
- Tem bebê que só dorme e precisa ser acordado a cada três horas pra ser alimentado.
- Os dois estão certos. Bebês nascem com instinto de sobrevivência, vão sempre procurar o melhor pra si e ficam calmos quando estão satisfeitos.
- Mas se a glicemia baixou no hospital? A primeira alternativa é amamentar, se o bebê está sonolento e não pega (ou não pega por outro motivo), então se deve ordenhar o colostro e dar na colherzinha, seringa ou até cotonete. Caso não seja possível no momento, não haja banco de leite humano e a fórmula precise ser oferecida, deve ser dada no copinho, seringa ou sonda de translactação, sempre após tentar amamentar no peito.
- O leite materno é diferente para os prematuros, tem composição certa para auxiliar na continuação do desenvolvimento cerebral fora do útero. Colostro passado na boquinha já é usado para aumentar a imunidade (chama colostroterapia). Colostro é vida. Não o menospreze!
- A apojadura e o ingurgitamento mamário: No quinto ou sexto dia o leite desce! Geralmente sobra leite! Após as mamadas, a mama ainda fica dura e dolorida. Isso dura quase todo o primeiro mês. Em alguns casos o leite “verdadeiro” desce antes e em outros casos há uma descida gradativa, sem ingurgitamento, o que pode fazer parecer que “não desceu”. Acompanhe o desenvolvimento do bebê, é no, crescimento e ganho de peso dele que você realmente saberá se está dando tudo certo na amamentação.
- A dor do ingurgitamento alivia com a sequência de manobras: Massagem/sacolejo/ordenha manual/compressa fria no final.
- O calor aumenta a descida e produção do leite, então cuidado com compressas quentes nessa fase de muita produção.
- Proteja o mamilo de “grudar” no sutiã com rosquinhas de tecido de fralda. Deixe-os expostos sempre que possível. Não use conchas de silicone, há alta incidência de candidíase mamária com seu uso.
- Aproveite o banho de sol do bebê para pegar sol nas mamas.
- Não houve comprovação de que preparar a mama antes ajude. Relaxe.
- Lanolina não trata fissura. Alivia a dor na hora, mas atrasa a cicatrização. Leite materno como pomada, aliado ao sol são a melhor estratégia.
- Chupetas e bico de silicone causam diminuição no ganho de peso e desmame precoce.
- O bebê perde peso ao nascer e tem 15 dias para recuperar o peso do nascimento. Acompanhe o ganho de peso no gráfico da carteirinha. Além do peso, o comprimento e o desenvolvimento motor precisam ser avaliados para determinar a eficiência da amamentação. Sem essa avaliação não se deve introduzir fórmula porque “parece” pouco leite. Muitas vezes parece, mas não é.
- Caso o bebê não ganhe o peso adequado na consulta com o pediatra, antes de introduzir a fórmula, procure uma consultora de amamentação na sua cidade. Pergunte no seu posto de saúde se há pelo SUS.
- Crescimento das unhas, linguinha brilhante, moleirinha cheia, xixi na fralda, cocô, são sinais de que o bebê está mamando bem. Nos primeiros cinco dias, antes da apojadura, esses sinais são menores e vão aumentando com o tempo.
- Já viu bebê sugando o braço do papai? Então, não precisa mamilo com pontinha pra amamentar, o bico plano e o invertido também amamentam. Não introduza nenhum outro tipo de bico pra não confundir o bebê.
- Não use bico de silicone.
- “Mas, meu bebê briga com o peito”, “faz ‘não’ com a cabeça”, se joga pra traz, tranca a boquinha. Pode ser arroto, pum, calor, incômodo. Mude de posição, ponha pra arrotar, acalme, volte a pôr no peito. Observe se não está em pico de crescimento ou salto de desenvolvimento (pesquise as tabelas).
- As chamadas “cólicas” começam por volta dos 12 dias, não estranhe se seu bebê ficar mais choroso, brigão a partir disso, principalmente no fim do dia.
- Colo é bom para o desenvolvimento e não vicia nem deixa manhoso. Se fosse pra ele andar nascia com as pernas firmes como outros mamíferos 😉
- Procurar algo pra sugar pode ser vontade de mamar, ofereça o peito, não é necessário aguardar o bebê chorar com fome para amamentar, essa prática dificulta a pega pelo estresse do bebê.
- Dormiu sem soltar a mama: está só descansando, mamar cansa, dói o maxilar. Quando ele estiver satisfeito vai largar totalmente o mamilo. Não cutuque a bochecha, deixe descansar. Leia um pouco. Cochile junto. Apoie bem seu corpo e cabeça. Esse tempo é sagrado e vale muito.
- Livre demanda é oferecer o peito quando o bebê busca e esperar que solte sozinho, se não é possível fazer isso sempre, tente fazer sempre que possível. Se precisar tirar o peito antes, coloque o dedo mindinho pelo canto da boquinha para tirar o vácuo que a boquinha faz no mamilo. Se puxar, dói e machuca.
- Não controle tempo de mamadas e intervalos. Exceto intervalos acima de três horas durante o dia – nos primeiros dias se recomenda acordar o bebê.
- Produção de leite se aumenta e mantém colocando o bebê para mamar mais vezes, boa ingestão de água, períodos de repouso, livre demanda, rede de apoio.
- Beba MUITA água e descanse. Peça ajuda para cuidar da casa e dos filhos maiores. A rede de apoio pode ser a chave para o sucesso da amamentação.
- Coma o que quiser e principalmente o que já é acostumada. Se aparecerem alergias, diarreia ou perda de peso, avalie com o pediatra.
- Alergias não são motivo para desmame. Há manejo correto caso a mãe deseje continuar amamentando. Para a cura do bebê é fundamental manter o aleitamento materno.
- Depois do primeiro mês, o peito já adequou a produção à mamada. Então não tem mais peitão duro e escorrendo. Não significa que diminuiu a produção. Peito é fábrica, faz leite na hora da sugada, não é estoque! Continue conectada ao seu bebê.
- Quando nascem os dentinhos há um interesse maior em morder. Não é um momento apropriado para o desmame, pois pode inibir o reflexo de morder que é importante para a alimentação e a fala. Ofereça outros objetos para morder, comunique que dói, mostre opções. Não repreenda ou reprima. A introdução de outros bicos (chupeta, mamadeira, copos de transição) também pode ocasionar mordidas pela confusão de bicos (quanto mais cedo a introdução, pior, além das mordidas, ocasiona desmame precoce).
- Amamentar deitada não causa inflamação no ouvido e é uma ótima opção de descanso para a mãe.
- Cama compartilhada ajuda a manter a amamentação prolongada. Observar a regra: bebê no canto, mãe no meio, pai na ponta. Contraindicações: mãe alcoolista, usuária de drogas ou obesidade grave.
- E, por fim, quem decide o desmame são a mãe e o bebê. Quando quiserem. Sobrecarga materna geralmente é um motivo de desmame, observe se não há outras coisas menos importantes das quais você pode abrir mão ou delegar funções antes de optar pelo desmame.
Aqui falo de mulheres e bebês saudáveis em condições normais de amamentação. Em caso de outros problemas procure um banco de leite, uma sala de apoio à amamentação ou apoiadoras/consultoras na sua cidade. Confie no seu corpo! Observe seu bebê! Peça ajuda! Entre em grupos de famílias!