Raabe era natural de Canaã, onde vivia tranquilamente até saber que se aproximava de um povo numeroso para conquistar a sua terra. No hebraico o seu nome significa tempestade ou arrogância, mas, apesar da vida fácil que levava, ela não se considerava uma pessoa arrogante e altiva. Seu estilo de vida incomodava muitas pessoas, especialmente aquelas mais conservadoras, pois ganhava o sustento comercializando o corpo, achando alguns até que ela fosse uma sacerdotisa da religião pagã, sendo, portanto, uma prostituta sagrada. Não importa. O fato de ser prostituta em si já era um estigma. As mulheres da sociedade evitavam qualquer tipo de contato com Raabe, pois ela era uma ameaça aos seus lares bem alicerçados e os homens a olhavam com intenções nada puras ou indignados.
Raabe vivia numa casa sobre o muro de Jericó. Ela devia ter uma bela vista não só da cidade como também da área que ficava fora dos muros protetores. Essa visão, que lhe dava a posição vantajosa perfeita para reconhecer prováveis clientes quando entravam e saíam de Jericó, pode ter-lhe sido muito útil para cuidar de seu negócio de prostituição.
Raabe era inteligente e sábia. Percebeu a aproximação do juízo sobre a cidade onde morava e conseguiu inventar um plano de fuga para ela e para toda a família. No momento em que soube o que Deus fez para os israelitas, ela decidiu participar da sorte deles arriscando a vida num ato de fé. Nesse ponto de sua fé, dois representantes de Deus a visitaram. Sua entrada na casa foi parte da preparação para o caminho de Deus em sua cidade. Agora, a fé de Raabe se torna decisiva. Ela salvou aqueles dois homens, não por simpatia humana, nem porque isso lhe convinha para sua própria segurança, mas porque eles foram enviados pelo Deus Altíssimo.
A história de Raabe revela a disposição de Deus para usar os imperfeitos, os rejeitados, os que podemos considerar inadequados para executar seus propósitos santos. O apóstolo Paulo nomeia Raabe entre a grande “nuvem de testemunhas”. Ela é a única mulher, ao lado de Sara, designada como exemplo de fé. Além disso, o apóstolo Tiago a menciona como uma pessoa digna de suas boas obras (Tg 2.25). Raabe casou-se com Salmon, era mãe de Boaz e, portanto, está incluída na linha materna dos ancestrais de Cristo. Por sua fé Deus a incorporou na linha sagrada de seu Filho unigênito. Em toda a Escritura, como algo que pode até ser considerado um toque de humor divino, Deus escolheu pessoas improváveis para realizarem grandes feitos, assim, Deus não espera que sejamos sem defeito algum nem que cheguemos ao pleno amadurecimento na fé para nos usar. Em vez disso, Ele toma pessoas comuns, de boa vontade, e realiza o extraordinário, tanto em suas vidas como na dos que as rodeiam. Como fez com Raabe, Deus promete usar-nos e, mediante essa experiência, aperfeiçoar-nos.
Deus não aprova atos pecaminosos, mas nos diz que é Onipotente e pode redimir até os piores pecadores. Ele nos diz, além disso, que pôs fim ao conflito agudo do pecado em nós e que não nos devemos considerar hipócritas e desprezar os outros por eles pecarem. A graça de Deus salva, perdoa e nivela o mais vil dos pecadores.